segunda-feira, 9 de abril de 2012

Lojistas Acusam Banco Safra De Aplicar Golpe.


Fonte: site do Congresso em Foco

Um processo judicial de mais de 3.500 páginas no Fórum de Campinas (SP) e que se arrasta há seis anos traz uma grave acusação: a de que o banco dirigido pelo segundo homem mais rico do Brasil aplicou um golpe contra uma família de lojistas da cidade. Empréstimos que antecipavam vendas feitas no cartão de crédito pela loja eram baseados em contratos assinados em branco. Depois, por ordem da Justiça, como depôs uma ex-gerente da instituição financeira, os documentos foram assinados com data retroativa. A surpresa vinha aí: as taxas cobradas eram o dobro do valor combinado com o cliente, segundo a acusação.
Laudo pericial entregue à Justiça aponta que, de devedora, a família de lojistas na verdade é credora do Banco Safra, de propriedade do banqueiro Joseph Safra, cuja fortuna é estimada em US$ 13,8 bilhões, atrás apenas do empresário de energia Eike Batista, com US$ 30 bilhões, segundo a revista Forbes.
Procurada pelo Congresso em Foco, a instituição financeira preferiu o silêncio. Mas, em defesa apresentada à 3ª Vara Cível de Campinas, o banco disse que o fato de existirem contratos em brancos, preenchidos só depois e com taxas de juros diferentes, não torna nulos os documentos. “Nestes dias de pós-modernidade, (…) as condições contratadas permanecem num espaço cibernético ou virtual”, afirma o Safra à Justiça. Na defesa, o banco disse que só depois de as condições serem acertadas com o cliente é que o consumidor descobre as taxas “efetivamente praticadas”.
A Federação Nacional de Bancos (Febraban) afirmou ao site que eventuais golpes cometidos pelas próprias instituições financeiras não são a prática do mercado bancário.
A confusão está exposta em 18 processos judiciais que tramitam no Fórum de Campinas, entre ações de execução, de busca e apreensão de bens e de revisão de contratos, movidos pelo banco e pela família Gobbo, de tradicionais lojistas da região. Um inquérito policial chegou a ser aberto, mas a investigação foi arquivada.

70 anos no mercado

A história começa por volta de 2003 e envolve as lojas de calçados Bootco, que pertencem à família Gobbo. Eles atuam no mercado há 70 anos e têm sete lojas, que depois se tornaram franquias. O principal sócio, o empresário Carlos Gobbo, preside o Sindicato dos Lojistas do Comércio de Campinas e Região. Seu filho Carlos Augusto Gobbo, o Guto, cuida do design dos sapatos e, agora, dos processos judiciais que ajudam a contar o problema.
Ele disse ao Congresso em Foco que a então gerente do banco Safra da agência do bairro Cambuí, Marilene Celani Spadaccia, procurou a rede de lojas oferecendo um empréstimo interessante e comum no sistema financeiro, o “crédito fumaça”. Toda vez que um cliente comprasse sapatos com cartão de crédito de maneira parcelada, a Bootco não precisaria esperar a administradora de cartões depositar cada prestação paga pelo consumidor. Os empresários poderiam antecipar a venda com banco, pagando uma taxa que girava entre 2% e 2,5% ao mês.

Papel em branco

No início, tudo era transparente e por escrito. “As taxas negociadas tinham os contratos devolvidos assinados. Depois de alguns meses, a coisa começou virar”, afirmou Guto, em entrevista. Com o grande volume de vendas de todas as lojas, a sistemática mudou. O banco entregava um formulário com os pedidos de empréstimo à loja, anotando a lápis, na parte de cima do documento, o valor e a taxa de juros a ser cobrada. Os lojistas assinavam o papel em branco e entregavam ao Safra “na confiança que tinham” nas gerentes Marilene Spadaccia e Denise Artem, conforme escritura declaratória da própria Denise, que integra um inquérito policial. O correto seria que, de tempos em tempos, voltassem com os contratos preenchidos e assinados pelo banco, mas isso não aconteceu mais.

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